Sandro Mesquita
Junho negro
Sandro Mesquita
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
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O mês de junho parece ter sido diferente e não só por conta da Feira Nacional do Doce que sempre movimenta a economia e a cidade. Aproveitando o gancho da palavra movimento, a comunidade negra, sempre com seus atores, militantes e ativistas, também não para.
Mas vamos aos fatos. Tivemos na arrancada do mês, mais precisamente no dia 2 de junho, a entrega da pesquisa realizada pelo Sebrae, Prefeitura de Pelotas, Sicredi, Data Favela, Instituto Locomotiva e Cufa. Um estudo com o objetivo de desenvolver um panorama dos negócios, entender as demandas e de como seria possível apoia-los.
Nesse raio-X, o perfil que se tem dos empreendedores nas periferias é que 69% são homens, 53% são negros, 60% são da classe C e, se juntarmos E e D, esse número sobe para 83%. A escolaridade é baixíssima, com 53% com Ensino Fundamental, e em média têm 38 anos. Não quero nesse momento me aprofundar na pesquisa, mas sim, em ordem cronológica, trazer outros acontecimentos.
Na sequência, tivemos na mesma Feira a abertura oficial que contou com o discurso de um homem negro, hoje presidente da Câmara de Vereadores, que traz inovação para o momento com uma intérprete de Libras incluindo outras pessoas na sua fala e história de vida.
Em outro momento, tivemos a inauguração do Espaço Cultural Afro Marlene Carvalho, na Bibliotheca Pública, coordenado por um líder da religião de matriz africana e seus filhos de santo, valorizando em vida personalidade da luta no mesmo dia que estão demarcadas as manifestações de fé ao orixá Bará.
Um projeto de lei também designa o espaço conhecido como "beco da Khautz", na Travessa Ismael Soares, primeiramente denominada como "beco do samba", fazendo um resgate histórico de um movimento popular que foi de muita expressão na cidade, passando a se chamar Beco da Cultura.
Nos dias que se seguem, a prefeita Paula, também estimulada por um projeto de lei, declara o movimento Amigos do Sereno como parte do patrimônio histórico e cultural imaterial da cidade.
A Cufa Pelotas faz entrega de R$ 40 para cem mães através de uma parceria nacional da Cufa, PicPay e FBank, podendo ampliar esse projeto.
Tivemos uma assembleia direcionada à questão do Passo dos Negros dentro das pautas de moradia, patrimônio e meio ambiente, como o debate da UFPreta sobre os restaurantes universitários e outras situações estudantis envolvendo o estudante negro de dentro e fora da cidade. Sem contar o trabalho diário do Kilombo Urbano Canto de Conexão e o debate sobre direito à cidade, além de outros movimentos nas vilas e bairros que não deixam essa roda parar.
Agora, os números da pesquisa realizada sobre empreendedorismo estão diretamente ligados com cada ação e cada movimento, desculpe a redundância, que movimenta suas ações. Como temos falado e construído possibilidades com parceiros, são as pessoas nas comunidades com seus movimentos individuais ou em grupos que estão fazendo a economia girar, criando uma cadeia produtiva com os empreendedorismos inovador, social, tecnológico, cultural, plural, esportivo…
Como materializar os números? Como fazer com que eles se desdobrem em ações concretas? Como ler os números que a pesquisa nos traz para além do empreendedorismo, como baixa escolaridade, números de residentes na mesma casa, falta de condições de manter um lugar próprio para os negócios?
Acredito serem repostas que teremos que procurar juntos e construir soluções do mesmo modo, pois a população negra e das comunidades e periferias de Pelotas está aí e pede passagem pra se reconstruir.
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